terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Frida Kahlo

Por Clara Pimentel

Eu poderia começar falando do quão maravilhoso foi o bazar que aconteceu na Tentamen, no dia 7, promovido pelo pessoal do Coletivo Catraia. Poderia afirmar que estava ansiosa a dias para assistir o desempenho das bandas, escutar a Dj Claudinha e garimpar algumas peças no bazar.

Poderia ...
Mas um ímpeto de sinceridade me faz confessar que a causa primordial de minha presença no evento foi para conferir o desempenho da banda nova, recém vinculada ao Coletivo Catraia, Frida Kahlo. Em sua apresentação anterior, que aconteceu no espaço da Toca do Lobo, não tive a oportunidade de comparecer, mas pude ouvir os comentários efusivos sobre o seu bom desempenho.

Cheguei na Tentamen sentindo-me uma groupie. Meus olhos buscavam atentos a presença de algum dos membros da banda e eu me sentia eufórica como se fizesse parte dela.



Com os olhos vivos, rodei pelo salão. Observei a admirável organização do evento, as roupas, o livro que eu tanto quero valendo 20,00 reais, os rostos sorridentes das meninas que coordenavam as vendas, os mesmos rostos de sempre; felizes e alvoroçados. Até que por volta das 19:00 finalmente Frida Kahlo subiu ao palco, pondo fim a minha espera ansiosa e a minha dança louca em zigue-zague no salão.



Com um ótimo repertório, que incluiu além de suas composições próprias (as músicas quebra-cabeça, homem da casa e desenho de um rascunho), também músicas de Erasmo Carlos; Roberto Carlos e Mutantes, a banda roubou os olhares dos presentes no evento e arrancou freqüentes gritos e aplausos do pequeno ‘fã-clube’que se encontrava bem próximo do palco. Sim, eu também estava entre os gritos e aplausos.

Os sucessivos problemas técnicos durante a sua apresentação não ofuscaram o talento da banda e a graça estonteante da voz doce e firme da vocalista de cabelos roxos, Rebeca.

Ao fim do show o semblante da banda em geral era de insatisfação e eu cheguei a ouvir os resmungos de que podiam ter se saído muito melhor. Bem, Frida, se o próximo show for melhor que esse eu verei estrelinhas.




Enquanto os integrantes da banda Frida Kahlo resmungavam; reclamando de seu desempenho, nós lhes roubamos alguns minutinhos para fazermos uma breve entrevista.

Cigarro: Há quanto tempo vocês estão juntos com essa formação?

Frida: Há 7 meses.


Cigarro: Quais são as referências para composição do estilo da banda?


Frida: De maneira geral nossas influências são de bandas e cantores dos anos 60, 70 e 80. Eu (Rebeca, a vocalista) sou muito influenciada pelos artistas da Bossa Nova e pelo Elvis, ao qual sou muito fã; Marquinhos, o guitarrista, tem influências dos cantores da Jovem Guarda; Alexandre, o baixista, tem influências mais atuais das bandas Indies; e Wladimir, o baterista, diz-se o mais eclético, mas seus maiores ídolos são os das bandas de rock’n roll mais clássicas. E no que diz respeito a moda, os meninos são mais ligados do que eu.


Cigarro: Recentemente vocês se vincularam ao Coletivo Catraia, o que mudou desde então?


Frida: O Catraia dá muita força com a divulgação da banda e nos dá também o espaço para o ensaio. Estar vinculado ao Catraia nos deu um grande impulso, uma maior visibilidade.


Cigarro: Vocês gravaram recentemente as três músicas que são de autoria da banda. O Catraia tem algum envolvimento na gravação das músicas?


Frida: Não, a gravação das músicas foi totalmente independente, a banda arcou com a despesa.


Cigarro: Qual a principal dificuldade de uma banda que está começando agora?


Frida: Definitivamente o público pequeno o que influencia diretamente nas oportunidades, nos convites. Mas o Catraia ajuda bastante com respeito a isso, há sempre a organização de algum evento.

domingo, 7 de dezembro de 2008

se tudo que eu preciso se parece, porque que não se junta tudo numa coisa só?




Vez ou outra eu andava por ai, me perdendo em pensamentos muito bonitos. Esses pensamentos findavam transformando-se em anseios; os anseios em delírios; os delírios em frustrações por que me parecia que tudo que me trazia paz de espírito, me pintava um sorriso, me despertava a admiração e o desejo de buscar equiparar-me fazia parte de um mundo tão, tão particular que por maior que eu fosse ele nunca seria grande o suficiente para deixar de dizer respeito apenas a mim.
Na maioria das vezes eu sentia a falta de um eco saudando as ‘minhas’ músicas, filmes, poesias, crônicas, livros, ídolos e infindas outras coisas. Ansiava ter com quem dividir medos, lutas, sonhos semelhantes e por tudo isso já havia me aceitado, me rotulado uma completa utópica.
Mas uma feliz surpresa me guardava na noite de dois de dezembro. Lá, sob as frondes de uma imensa árvore, com a lua nos sorrindo e sobre o efeito de alguns pomposos cigarros de cereja, nossas almas entraram em sintonia.
Nós nos demos conta do quanto tínhamos anseios ímpares e decidimos criar um lugar para poder compartilhar com os que têm a alma inquieta e do tamanho da nossa, tudo o que despertar interesse e nos fizer delirar.
“Se tudo que eu preciso se parece, porque que não se junta tudo numa coisa?”
Esta pergunta foi o estopim da construção deste espaço, que para mim (e eu espero que para muitos) será um refúgio. E a resposta para esta intrigante pergunta nós pretendemos materializar aqui.
Eu quero ver peças que me façam arrepiar, ouvir músicas que me façam querer me reinventar, saber de filmes que me motivem a mudar o mundo ou as pequenas coisas ao meu redor, quero ler poesias que me dêem uma vontade louca de amar, ver quadros que me inspirem a querer correr para casa para pintar a parede do meu quarto. Eu quero que vejam esse blog como um dia nublado, com muito vento, um arco-íris e uma lua cheia; amarela; brilhante no céu, os amigos mais queridos presentes e uma carteira de cigarros de cereja que nunca acaba!

Tudoquemaisgostasaomesmotempoaquiagora!




- fotinha do FFFFound *---* meu novo vício

sábado, 6 de dezembro de 2008

Teatro, Correria, Amor e Encontro das Artes. No fim dá tudo certo.

8:10, um ator varava os cômodos da casa de leitura apreensivo, com celular em mão e passo rápido. A calmaria que permeia a Casa de Leitura da Gameleira contrastava com a expressão e a correria do ator, que quando foi questionar sobre a hora da sua apresentação descobriu que faltava apenas uma música para que o seu grupo de teatro subisse no palco pequeno, mas confortável da casa. O problema que apressava os passos dele e da organização era o atrasado de duas atrizes que junto com ele faziam a esquete teatral que constava na programação da I Simultesia – Encontro Simultâneo das Artes. As meninas tinham uma apresentação de trabalho naquela mesma noite que valia nota da N1. Enquanto falavam do papel do trabalho no processo de transformação do macaco e homem, na sala do 2º período de Ciências Socias, André Cézar, o ator desesperado, chegava à casa de leitura com uma escada enfeitada com fitas e flores, um cabide que pouco se firmava no chão ( e graças à magia do teatro nunca caiu em cena) e uma caixa branca que guardava os adereços dos personagens.

8:3o,
- Quanto tempo tem a apresentação de vocês?
- 30 minutos, é só uma esquete.
- A ta, é porque a casa de leitura tem que fechar 9 horas, então vocês têm que se apresentar agora.
Mal a funcionaria da Casa de Leitura terminara de falar o André já estava com o celular ao pé do ouvido: Onde vocês estão? Como? Tem que chegar aqui em 10 minutos? Em frente de onde?O que? E quem vai fazer a Sonoplastia, a Ju ainda não apareceu? Tem certeza que falou com ela? Hãn?

A comunicação estava sendo cortada pela última música da banda Nicles, que tocava no mesmo palco em que deveriam se apresentar, agora os problemas eram maiores, a sonoplasta não tinha sido avisada e o cd tinha que ser regravado pois não encontraram o original. Mas em um passe que deixou todos impressionados, o Yuri, um amigo do grupo, conseguiu gravar o cd no tempo recorde de três minutos e ainda sair correndo pela rua para entregar o cd ao carro que transportava as duas atrizes e uma sonoplasta improvisada.

Kilrio Farias, Vocalista da Nicles e Organizador do I Simultesia – Encontro Simultâneo das Artes

Os aplausos eram para saída da Banda Nicles, que acabara sua performance. Agora era a vez deles, e nada delas chegarem.

- E agora, agente não apresenta? É isso?
- Não, calma, pode ficar tranqüilo, agente segura até as meninas chegarem - tranqüilizava-o Kilrio Farias, o organizador do Sarau. Kilrio assistiu uma apresentação do grupo na Biblioteca Marina Silva, gostou do espetáculo e os convidou para se apresentarem no Encontro das Artes.

Um par de olhos azuis subia aos holofotes e lia uma poesia de Mario Quintana, enquanto uma fila se formava perto do palco com pessoas de livros na mão que queriam ler poesias, histórias, enfim o espaço era livre para quem quisesse se manifestar. Esse par de olhos azuis, já tinha subido ao palco várias vezes, ele apresentava o Sarau, e pertencia à Agatha Lima, que é atriz, estudante de Artes Cênicas e namorada do Kilrio.

8:55,Finalmente, chegavam as meninas todas de branco compondo o figurino do espetáculo, entraram e foram direto para o cozinha da casa que também tinha livros espalhados por todo canto. Enquanto Fabrícia Freire terminava a maquiagem e Clara Pimentel, passava um roteiro feito minutos antes no carro para Veriana Ribeiro, amiga do grupo que não pensou duas vezes em aceitar a idéia de improvisar essa sonoplastia. A tarefa parecia fácil pois Veriana já havia assistido a esquete algumas vezes.

Todos prontos, o grupo faz um ritual que já se tornou hábito antes das apresentações. Unem-se em roda e os três ''bem baixinho mas com muita força'' dizem MERDA.

9:10, Agatha apresentava o grupo de teatro TudoNumaCoisaSó, fazendo um histórico do grupo que não é muito, já que esse é seu primeiro trabalho.

E agora as 9:13, os três se entreolhavam atrás do público, cada qual em uma porta que dava para a varanda, esse era o sinal que eles podiam começar. E assim foi, o espetáculo Todos os Amores se desenrolou, naquele palco pequeno e aconchegante. Alguns olhos brilhavam na platéia, e um, era muito conhecido, o do pai da atriz Clara Pimentel que se emociona sempre que vê a filha no palco.

Agora, já às 9:53, Fabrícia Freire fechava o espetáculo com uma das melhores falas do texto. Indagando o público sobre a verdade desse sentimento que o grupo resolveu transformar em teatro, o amor.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Tudo Numa Coisa Só: Cigarros de Cereja e a Vontade de Mudar o Mundo (ou eles mesmos)

Grupo de teatro TudoNumaCoisaSó que apresenta-se nesta sexta-feira no sarau. O nome não é uma mera coincidência


Eram três jovens sentados na parada final da Universidade Federal do Acre fumando cigarros de cereja e conversando sobre a vida, os anseios, os desejos. Comum em toda juventude. A vontade de mudar o mundo (ou ao menos tentar). Três aspirantes a jornalistas – e atores, cantores, artistas, escritores ou apreciadores profissionais (não críticos, apreciadores. Há uma diferença imensa entre os dois). Foi quando surgiu a idéia: criar um blog. Colocar nas redes internáuticas suas idéias, concepções do mundo e de sua cidade. Mas não apenas isso. Eles queriam treinar. Brincar de serem jornalistas. Eles queriam mudar o mundo através das palavras. Não apenas escrever, mas fazer pensar.

E falar sobre o que? Sobre arte, música, teatro, livros, idéias, fotografias. Mais do que isso, falar sobre esses temas sendo produzidos por tantos jovens (de corpo ou espírito, ás vezes os dois, às vezes apenas um) que tivessem o mesmo anseio de movimentar as coisas.

Eram de uma cidade relativamente nova. Não era pequena, mas também não era grande. Chamava-se Rio Branco e estava situada no estado do Acre. Bem no final do Brasil, ou no começo, dependendo de onde você estiver olhando. Terra de Chico Mendes e Imperador Galvez. Lugar onde boêmio é amigo do governador e ganha estátua, corta-se árvore para plantar boi ao mesmo tempo em que florestania é nome, conceito, lema e política. Estado que teve fuso-horário mudado, como se a terra tivesse mudado de lugar.

E no meio disso tudo a cultura foi e está sendo criada. Cultura de identidade, de patrimônio, de historia e de expressões artística. Onde 50 anos, metade de uma vida, é também a metade do estado. Onde as gerações passadas se encontram com o presente e os antigos lutam juntos com os novatos na criação do primeiro sistema municipal de cultura. E é exatamente aquele espírito de mudança que uniu aqueles jovens a fazer um blog que também movimenta estudantes, poetas, atores e músicos para fazer um Sarau Literário em frente ao rio que corta a cidade, na Casa da Leitura Chico Mendes nesta sexta-feira (05). O evento vai contar com declamações, leituras, apresentações teatrais e musicais.

O Bazar Catraia acontece neste domingo, misturando moda, arte, mercado e música.


Também é esse anseio de tentar fazer algo diferente que faz com que o Coletivo de Cultura da cidade realize no domingo (07) um bazar no famoso e antigo clube recreativo da cidade, a Tentamem. Um local de historia, onde dançou governador, pulou carnaval os maiores poetas, boêmios, jornalistas e tantas outras celebridades históricas da cidade. Alem da venda de roupas, óculos, acessórios, livros, CDs, e tantos outros objetos também se apresentam bandas locais.

São jovens de variadas idades que estão à frente dos dois eventos que animam os rio-branquenses neste final de semana. Jovens que ajudam a produzir eventos culturais pela cidade, participam de fóruns e assembleias e discussões culturais. Pessoas que, indo contra o discurso afirmado pelos mais velhos de que os jovens não se interessam e não se importam com nada (que não deixa de ser uma verdade), estão tentando mudar algo. Se não o mundo, pelo menos a cidade, a regional, o bairro ou eles mesmos.

E é sobre isso que vamos falar aqui. Entre tantas outras coisas. Tudo com gostinho de cigarro de cereja. Porque afinal de contas, foi assim que começou: Tudo numa coisa só.